Uma das questões importantes da vida é pertencer a um grupo. Afinal de contas, não nascemos para viver sozinhos. Somos seres sociáveis e precisamos de outras pessoas para vivermos plenamente. De uma forma ou de outra estaremos ligados a outras pessoas. Ao nascermos pertencemos a uma família, pai, mãe, irmãos, tios sobrinhos... Depois, vamos para a escola e, assim, vamos interagindo com outros grupos, ou melhor, pertencendo a outros grupos. Nessa caminhada, conhecemos grupos que não nos identificamos, e, portanto, não estabelecemos o sentimento de pertencimento. E como é ruim estar num grupo ao qual não pertencemos. O sentimento é de ser o estranho no ninho. É estar em terreno hostil.
Já quando estabelecemos a noção de pertencimento, passamos a honrar aquele grupo, colaborar para o seu desenvolvimento e estar ali é uma alegria. Isso não significa que dentro do grupo ao qual pertencemos não haverão conflitos ou choques de interesses. Porém, o interesse comum sempre será maior.
Pertencer a um grupo compreende a identificação, encontrar semelhanças e estabelecer conexão. Quando estamos na universidade, por exemplo, nos conectamos com outros universitários. Nela, a vida acadêmica é comum a todos nós. Falo das provas, estudos, leituras, a busca pelo conhecimento, ou seja, uma série de questões que nos conectam e nos dão essa noção de pertencimento.
As entidades e associações fazem muito para aprimorar esta noção de pertencimento, a exemplo das associações afro, italiana, alemã, árabe, entre tantas outras. Todas elas são importantíssimas para manter vivo o sentimento de pertencimento ao grupo de pessoas que vieram para o Brasil e, aqui, construíram suas vidas sem deixar de comungar tradições, hábitos e costumes milenares de seus antepassados.
Por isso, que estimular o pertencimento é sempre um ganho coletivo. É exatamente isso que o Projeto PertenSer vem realizando em Santa Maria. Realizado no CEU da Nova Santa Marta, estimula o pertencimento através de oficinas de valorização, empoderamento e empreendedorismo. Tenho a grata satisfação de coordenar o projeto que está a todo vapor. Aprovado pela Fundação Marco Polo Lei 14017/20, o projeto prevê a realização de cinco oficinas: tranças afro; comida afro; costura; grafite; resgate, valorização e empoderamento, que serão realizadas ao longo dos meses de agosto e setembro deste ano.
O nome do projeto brinca com a grafia para evidenciar o "ser" e sua complexidade, por isso " PertenSer". Queremos que os participantes se identifiquem e tenham essa noção de pertencimento ao povo negro. Valorizar, evidenciar e exaltar as belezas que a cultura e as tradições do povo negro é estimular uma educação antirracista tão necessária na nossa sociedade.
É lindo ouvir as histórias e as experiências das pessoas que estão participando do projeto. Sentir neles a valorização das nossas origens, dos nossos antepassados, é fortalecer suas afroidentidades, colocando uma injeção de estímulo para que possam buscar a vida de felicidade, realização e sucesso que merecem e têm direito.
PertenSer é, sobretudo, um ato de amor e valorização. Salve o pertenSer nosso de cada dia!
Aqui, podemos pensar nas minorias sociais, grupos onde os membros estão em situação vulnerável, tal como as mulheres que, infelizmente, são discriminadas dentro da sociedade.
Texto: Deborá Evangelista
Advogada